sábado, 10 de setembro de 2011

O Professor e o Gerente

Os gerentes tem muito que aprender com os professores.

Em especial quanto a cobranças e exigência de resultados. Como professor sei que se eu cobrar de alguém uma resposta que esta pessoa (ainda) não é capaz de dar, terei que necessariamente entender a natureza da dificuldade desta pessoa para ajudá-la a produzir o que quero. Lembra um pouco a fala do personagem Jerry Macguire: "Help me to help you!" (Me ajude a te ajudar!). Se a pessoa não produzir o que pedi, e eu simplesmente continuar a cobrar, posso facilmente prever que esta comunicação será no mínimo uma perda de tempo para ambos. Jamais ocorreria a um professor dizer a um aluno:

- Use o verbo 'to be' nesta frase, Paula.
- Mas eu não sei usar!
- Isso não é problema meu, já venho te pedindo isso há um tempo. Vou ser sincero com você: produza o que pedi ou nossa situação ficará complicada! Francamente não entendo sua resistência e isso me preocupa...

Absurdo, não? E no entanto vemos muitos gerentes agindo desta forma, tratando o ser humano que está na sua frente como uma peça defeituosa de uma máquina que precisa funcionar a todo vapor. O cavalo não anda? Mais chibata que ele se anima! Viu? Olha como está galopando agora! Isso prova que só precisava de um pouco de estímulo enérgico!

Aliás, é este modelo de "organização-fábrica", antiquada e retrógrada, que ajuda a manter esta mentalidade do "gerente capataz". O cargo de chefia neste caso se reduz a um mero cumpridor de metas, que são cumpridas através da cobrança aos subalternos (pois ele ou ela por sua vez já havia sido cobrado por um superior, em uma longa cadeia de cobranças). Um manda no outro, que repassa o mando adiante, e por aí vai, até algo ser feito, e se não é feito é culpa de quem mandou por não mandar direito, e culpa de quem recebeu a ordem por não obedecer. Neste modelo, quem está mais "acima" acaba muitas vezes "despejando" ordens e exigências em quem está abaixo, conforme ilustração:



A ineficácia deste sistema acaba se mascarando de diversas formas. Existem inclusive alguns termos muito utilizados para rotular o funcionário ou seu comportamento quando este deixa de satisfazer às exigencias da gerência (colocando a gerência em maus lencóis com seus superiores) tais como "falta de proatividade", ou "resistência", "falta de espírito de equipe", etc, todos convenientemente vagos mas com ótima aceitação pois parecem muito bem em relatórios e em "conversas francas" com funcionários. A pessoa que utiliza estes termos realmente parece que sabe o que está dizendo!

Devo admitir que deste mal também sofrem muitos professores, inclusive eu no início de minha carreira rotulei muitos alunos como "resistentes" como forma de desviar o foco da minha falta de habilidade em comunicar determinado conceito. Hoje percebo que se um aluno não entende, é meu dever mudar a minha comunicação até que encontre ressonância com o modelo cognitivo do aluno. Isso torna a minha tarefa mais desafiadora, porém muito mais satisfatória. Desta forma aumento meu conjunto de habilidades pois cada encontro se torna também uma oportunidade de aprendizagem para mim.

Enfim, não é a "transferência hierárquica de cobranças" que produz bons resultados, e sim a cooperação e boa utilização da capacidade de cada um. Se uma pessoa não corresponde ao esperado, ajude-a, ensine-a, e você ganhará muito mais do que ambos poderiam imaginar.